quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Tiago Ranhada
Critica Centro Regional do Sangue – ARX Portugal
Programa + Conceito = Pormenor
É, na verdade, nos pormenores que reside o verdadeiro valor desta obra!
Uma visão fragmentada, desconstruída, de uma obra em cujo programa domou o conceito, unindo a sua racionalidade ao desafio de implantar o edifício, num terreno fragmentado, de envolvente distinta, e resultando numa viagem ao mundo do detalhe e da aplicação material.


Partindo então da análise da proposta somos capazes de perceber o pragmatismo face ao programa. Este consiste em servir de suporte para recolha de sangue e subsequente divisão do mesmo, contendo também os programas administrativos associados. Este género tipológico, ainda pouco aprofundado, requer um espaço flexível, que permita constantes modificações, de forma a se adaptar aos avanços científicos e tecnológicos que podem acontecer.
Perante esta necessidade os arquitectos desenvolveram um conceito pragmático, uma separação entre aquilo que são os espaços interiores e a pele do edifício. Temos assim, no interior, um edifício baseado em espaços geometricamente simples, para facilitar futuras metamorfoses e uma pele, que não é mais que uma experimentação desconstrutivista de uma panóplia de materiais, uma investigação de processos construtivos, que reflectem influencias como Libskind e Morphosis, mestres na arte do diálogo indirecto entre o contentor e conteúdo. Os ARX criam assim uma relação de movimento constante entre o observador e o edifício.
Este edifício linha desenvolve-se então no irregular terreno, formando segmentos que ou assumem uma posição mais forte e assente no terreno, ou então que se transformam em lâminas flutuantes.
Do resultado da implantação surge-nos um percurso que desenha os espaços de estacionamento, onde a seleção e desenho dos materiais é também criterioso. Este espaço permite ao edifício respirar e permite ao observador circular em torno do corpo principal, na procura de deliciosos pormenores que facilmente passam despercebidos.
É nesta procura que temos contacto com o ser arquitetónico, o automóvel que partilha da arquitectura e os pormenores agudos, transpiram ideias futuristas: no simples desfragmentar de uma pala; no remate de um volume; num sulco de cinco centímetros num tecto; ou na projecção casual de um volume; na conjugação da chapa, do granito e das bandas de vidro; no desalinhamento horizontal dos módulos das janelas; numa torção de uma rampa; numa janela que se prolonga horizontalmente rasgando a parede…

E no entanto, esta composição de rotura linguística, não é capaz de evitar uma ideia de integração urbana. A sua escala institui um caráter local (bem presente na relação das fachadas com a envolvente) e não de violento rompimento, como nas ideias defendidas por Sant’ Elia, Marinetti, Balla, entre outros, criando assim uma dicotomia clara em torno do edifício.

Dicotomia bem presente no espelho de água utilizado pelos arquitetos, um momento estático na obra, inserido num imaginário poético de total contraste com toda a velocidade linguística da construção, e que surge sem razão aparente, excepto como simples barreira de separação entre a rua e o interior da proposta.

Ficando com estas ideias em mente, devemos então perceber esta obra como um hino ao detalhe construtivo, muma procura de identidade que reflete nada mais, nada menos, do que uma necessidade programática e um conceito arquitetónico.

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